Diversidade racial é desafio para setor de TI
Pesquisa exclusiva com 126 profissionais indica que apenas 7% são pretos.
Valor Econômico | Carreira
A igualdade racial ainda é um objetivo longe de ser atingido no mercado de brasileiro de tecnologia, também considerado um dos setores que mais sofre de escassez de talentos. De acordo com pesquisa exclusiva obtida pelo Valor, entre os profissionais de TI, apenas 7% são pretos e 11% se consideram pardos. Já a dificuldade de recrutar currículos nesses dois grupos é relatada por 33% das lideranças.
Os dados são de um estudo da LANDTech, empresa de recrutamento de profissionais de TI e digital do Talenses Group, em parceria com o hub de tecnologia IT Forum. O levantamento, que será apresentado na próxima semana, ouviu em outubro 437 profissionais de diversas áreas no país, sendo 28,8% do setor de TI e 55% em cargos de liderança (gerência ou superior). Do total, 22% trabalham no RH de firmas que atuam em mais de vinte segmentos, como tecnologia (17%) e serviços (16%).
“Entre os gestores de RH que responderam se a área de TI é a mais desafiadora para contratar perfis diversos, a nota média alcançada foi 4, considerando 1 como pouco e 5 como muito desafiadora”, detalha Paulo Moraes, diretor-geral da LANDtech e cofundador do Talenses Group. “É um dado que ressalta como há pouquíssimos representantes de grupos minorizados nesse mercado.”
Dos 126 profissionais de TI ouvidos, 75% são brancos, antes de pardos (11%) e pretos (7%). As mulheres representam 17% da amostra, enquanto pessoas com deficiência (PCDs) marcaram 6%. O estudo não aferiu índices de diversidade entre funcionários de outras áreas.
A pesquisa revela que, apesar de ainda existir um grande desafio no combate à baixa representatividade de grupos minorizados nos quadros de TI, a maioria dos empregadores está considerando o tema. “Segundo 88% dos gestores de RH, suas organizações promovem ações voltadas para diversidade e inclusão”, garante Moraes.
Entre os públicos subrepresentados tidos como prioritários pelos gestores para contratação, as mulheres ficam em primeiro lugar (52%), antes de PCDs (27%), pretos e pardos (20%).A boa notícia, segundo o consultor, é que a maioria (59%) dos respondentes acredita que a diversidade tem um impacto “muito positivo” sobre o perfil desejado da liderança do futuro.
“Esse líder será justamente aquele capaz de guiar as empresas na discussão sobre a necessidade de ampliar a representatividade entre os colaboradores, com um foco que envolva também ganhos de negócio”, explica. “A diversidade no mercado ‘tech’ ajuda a impulsionar a inovação e a construir mais produtos e serviços.”
Na visão de André Cavalli, CEO do IT Forum, apesar dos números baixos de inclusão, a análise aponta uma visão otimista sobre o compromisso das organizações com as pautas de igualdade. “Mais da metade (59%) crê que o desenvolvimento de um ambiente mais diverso e inclusivo é um propósito genuíno nas corporações.”
Diante dos resultados do estudo, o executivo sugere medidas “concretas e duradouras” para as corporações promoverem mudanças com rapidez. “A agenda ESG [boas práticas ambientais, sociais e de governança] deve ser uma prioridade, com a criação de indicadores para mensurar ações de diversidade”, aconselha. “Ter programas nesse campo é fundamental, mas medir os impactos obtidos serve para a perenidade das iniciativas.”
Paulo Moraes
Managing Director LandTech