Habilidades socioemocionais:
o foco dos líderes em 2025
Isis Borge
Executive Director Talenses & Managing Partner Talenses Group
No cenário dos últimos anos, uma competência específica tem ganhado destaque: as habilidades socioemocionais. São elas que permitem aos líderes não apenas navegar pela complexidade atual, mas também influenciar e inspirar suas equipes de maneira mais eficaz.
As habilidades socioemocionais dizem respeito à forma como cada um de nós lida com as próprias emoções, interage com o outro, toma decisões ou reage a algo ou alguém. São, por exemplo, a empatia, a comunicação eficaz, a resiliência, a inteligência emocional e a capacidade de trabalhar em equipe. Em um mundo em que a tecnologia é cada vez mais capaz de executar tarefas técnicas, sem ainda replicar com perfeição o comportamento humano, o comportamento dos profissionais ganha ainda mais relevância.
Como recrutadora, tenho acompanhado de perto a crescente valorização das habilidades socioemocionais no mercado de trabalho. Essas competências não apenas promovem um ambiente de trabalho mais colaborativo e positivo, mas também são cruciais para a resolução de conflitos, para a tomada de decisões em cenários de alta incerteza e para engajar e motivar o time.
Sabe aquelas situações em que a empresa prefere contratar um gestor externo a promover alguém da equipe? Já vi casos em que o time interno tinha profissionais tecnicamente capacitados para o cargo, mas a liderança da empresa não via nenhuma dessas pessoas demonstrando ter inteligência emocional para lidar com a pressão da função. Vejo isso, com frequência, nos processos seletivos que acompanho. Muitas substituições também acontecem pelo mesmo motivo, e o tema já faz parte de muitas avaliações de desempenho.
No atual ambiente corporativo, líderes precisam de habilidades socioemocionais para lidar com ciclos de mudanças cada vez mais rápidos, estabelecer uma comunicação clara com a equipe e motivar o time mesmo em cenários complexos. Além disso, em equipes cada vez mais diversas, empatia e escuta ativa são fundamentais para criar um ambiente em que todos se sintam valorizados.
O trabalho híbrido ou 100% remoto, por sua vez, exige dos gestores uma comunicação assertiva e a capacidade de estabelecer conexões significativas, principalmente considerando que há um grupo de profissionais que está no mercado de trabalho sem nunca ter tido experiência profissional no modelo presencial. No meio de tudo isso, o líder ainda precisa se manter atento à qualidade da saúde mental dos colaboradores, enquanto cuida do próprio equilíbrio psicológico e de seu bem-estar para inspirar boas práticas de autocuidado pelo exemplo.
Talvez você esteja se perguntando: “como adquirir essas competências?”. E aqui vai algo que, para mim, é muito consolador: habilidades socioemocionais podem ser aprendidas, desenvolvidas e aprimoradas. Se esse é o seu desejo, aqui estão algumas estratégias que podem ser adotadas.
Invista em autoconhecimento
A meu ver, o autoconhecimento é o primeiro passo para nos tornarmos pessoas melhores. Pensando nos gestores, é fundamental saber liderar a si mesmo antes de gerir outras pessoas.
Pratique a escuta ativa
Ouvir com intenção de compreender a mensagem do outro, em vez de apenas ouvir e responder, é um dos fatores primordiais para melhorar as relações interpessoais e construir relacionamentos mais fortes.
Desenvolva a sua inteligência emocional
Para conviver em grupo e liderar um time, é fundamental saber como gerir as próprias emoções e lidar melhor com o que os outros sentem. Essa inteligência emocional pode ser adquirida e aprimorada por meio de cursos e leitura sobre o tema, além de terapias com profissionais da saúde mental.
Peça e ofereça feedbacks
Um dos recursos mais eficientes para o nosso crescimento como pessoas e profissionais é ouvir a percepção de gente de confiança sobre as nossas habilidades, nosso desempenho e nossos resultados. Isso pode ser feito por meio de um mentor, mas não só ele. Também ajuda a incentivar sua equipe, seus pares, outros gestores e amigos a oferecer e solicitar feedback.
Busque ajuda especializada
Caso identifique alguma complexidade no desenvolvimento de habilidades socioemocionais, procure apoio especializado com um psicólogo. Lembrando que terapia é, antes de tudo, uma forma de autocuidado.
Empresas buscam mais psicólogos e até antropólogos
Empresas líderes em seus segmentos têm investido fortemente no desenvolvimento socioemocional de seus líderes. Conheço uma grande empresa de tecnologia que implementou programas que combinam mindfulness com inteligência emocional para melhorar a performance e o bem-estar da equipe. Outra gigante do ramo de consumo oferece treinamentos específicos para líderes em temas como empatia e liderança inclusiva, alinhados aos valores de sustentabilidade e responsabilidade social. Uma grande farmacêutica introduziu um programa de “liderança sem ego”, que enfatiza a colaboração e a empatia como formas de liderar.
É nítido que as organizações têm reconhecido a importância das habilidades socioemocionais no dia a dia do negócio, principalmente no nível executivo. Entendo que essas competências, em algum momento, serão um diferencial competitivo importante em todas as faixas da pirâmide. Vale destacar que empresas que investem no desenvolvimento socioemocional de suas lideranças têm relatado maiores níveis de engajamento e retenção de talentos.
Uma tendência interessante no mercado de trabalho é o aumento da demanda por profissionais com formação em áreas como antropologia, psicologia e outras ciências que estudam o comportamento humano e as emoções. São especialistas que ajudam as organizações a compreender melhor as motivações, as necessidades e as ações e reações dos colaboradores, promovendo soluções mais alinhadas a um ambiente de bem-estar e produtividade.
Para quem deseja aprofundar-se no tema das habilidades socioemocionais, vale explorar obras de autores renomados que abordam essa temática, como Daniel Goleman, Brené Brown, Simon Sinek e Charles Duhigg, entre outros. Uma outra forma de aprendizado é explorar os artigos de universidades, como Harvard e MIT, que têm diversas publicações relacionadas às necessidades do mercado de trabalho.
Saber lidar melhor com os pensamentos e sentimentos que estão dentro de nós e do outro é uma iniciativa fundamental para transitar por um mundo em constante transformação.