CEO: uma escolha, muitas renúncias e consequências
Recentemente, fomos impactados por uma polêmica envolvendo a opinião de um CEO do setor de educação sobre a presença feminina em cargos de presidência no mercado de trabalho. Apesar de lamentável, esses episódios nos lembram que pensamentos retrógrados ainda persistem, abrindo espaço para debates urgentes sobre práticas inadequadas e vieses inconscientes. Eles também nos forçam a refletir sobre questões mais amplas e relevantes.
Minha proposta aqui é dar um passo atrás e refletir: “O que realmente significa ser o(a) CEO de uma empresa ou ocupar a liderança de uma organização, nação, causa ou grupo?” Ainda há quem romantize esse cargo, enxergando apenas os benefícios, como remuneração atrativa, status, acesso privilegiado e influência. Embora tudo isso seja inegavelmente valioso, há muito mais a se considerar.
Vale ressaltar que a discussão aqui transcende questões de gênero. Não se trata de falar sobre um CEO homem ou mulher, mas sim de mérito e resiliência que cada indivíduo traz para o papel. A liderança, em qualquer nível, exige que se vá além das expectativas e que se desenvolva uma força interior própria de cada ser humano, independentemente de quem ocupe a posição.
Como a filósofa e escritora Simone de Beauvoir uma vez disse: “O que é um líder senão alguém que constantemente desafia a si mesmo, bem como as normas e expectativas da sociedade, para criar algo maior?” Essa citação ressalta que liderança envolve muito mais do que o simples exercício de poder – trata-se de uma transformação contínua e de uma responsabilidade para com os outros.
Na posição de CEO, o ambiente muitas vezes é solitário, as pressões são imensas e as decisões, críticas. É um lugar onde o ar é rarefeito — há escassez de espaço para erros e a responsabilidade parece sempre maior do que a recompensa. A diplomacia se torna uma necessidade constante, especialmente ao lidar com opiniões divergentes. As demandas dos acionistas pesam em cada decisão, e o líder precisa filtrar a realidade antes de transmiti-la ao time, evitando sobrecarregar a equipe com o excesso de desafios do dia a dia.
Essa carga emocional e psicológica justifica condutas inadequadas? De forma alguma. Meu objetivo ao retratar essas pressões é enfatizar que a posição de CEO deve ser ocupada por pessoas realmente preparadas para as exigências do cargo, comprometidas com a evolução constante de capacidades indispensáveis, como autoconsciência, empatia, autocontrole e a habilidade de tomar decisões difíceis com clareza e compaixão.
É leviano afirmar que o cargo de CEO não é para todos, mas certamente é mais adequado para aqueles que compreendem que liderar significa servir. Ser CEO não se trata de exercer controle ou comando, mas sim de influenciar, representar e agir com responsabilidade institucional e social. Quem não entende isso corre o risco de promover comportamentos inadequados, gerar ambientes tóxicos, impactar negativamente a saúde mental dos colaboradores e prejudicar carreiras e reputações.
Se você deseja assumir essa posição de liderança, o primeiro passo é refletir sobre o propósito que o(a) motiva. A obra Em busca de sentido, de Viktor Frankl, pode ser uma excelente ferramenta para essa introspecção. Pergunte-se: “Estou preparado(a) técnica e emocionalmente para ocupar esse cargo?”; “Como posso tomar decisões sem ser influenciado(a) apenas pelas minhas crenças pessoais?”; “Estou comprometido(a) em eliminar meus próprios vieses inconscientes no cotidiano?”