Como saber a hora certa de procurar um novo emprego?
A colunista Isis Borge orienta leitor que está com dúvida entre permanecer na empresa onde trabalha há oito anos ou ir em busca de outra oportunidade profissional
Colunista da VocêRH e do Valor Econômico
“Trabalho há quase oito anos na mesma empresa. Comecei como analista e fui sendo promovido até chegar ao cargo de gerência. Às vezes, penso que seria bom ter outras experiências, mas, ao mesmo tempo, me sinto muito à vontade onde trabalho, pois conheço todas as pessoas e sinto que domino bem o ambiente e os meus afazeres. Tenho receio de “começar do zero” em outro lugar, porém, por vezes me sinto entediado. Como saber a hora certa de procurar um novo emprego?” Gerente de operações, 32 anos
A sua trajetória na empresa atual me parece positiva, pois você não está há oito anos na mesma função, foi tendo uma progressão na carreira, o que mostra que a empresa está reconhecendo o seu trabalho. Em situações assim, é positivo permanecer e buscar concluir ciclos em cada cargo ocupado. Agora, como gerente, você precisa ter um tempo na cadeira para assimilar bem as atividades, conseguir contribuir com o negócio e apoiar a equipe. Em posições gerenciais, para, de fato, alcançar um cargo pleno na cadeira, o ciclo costuma variar entre três e cinco anos.
Por outro lado, se você sentir que, a partir de agora, tende a estagnar, não tem tantas possibilidades de agregar novas atividades e/ou já cumpriu o ciclo na função atual, pode ser muito benéfico mudar, seja para outra empresa ou mesmo para outra área dentro da companhia em que está. Mas é importante você ter certeza de que a vontade de mudar é sua e não uma pressão externa, de pessoas e do mercado.
Existem executivos com carreiras incríveis, mesmo permanecendo longos períodos na mesma empresa. Lembre-se de que, muitas vezes, as movimentações entre departamentos acabam sendo similares à mudança de emprego. Afinal, com novos desafios, diante da necessidade de realizar novas atividades, é possível ter de volta a sensação de frio na barriga.
Em geral, as movimentações internas são motivadas por não se sentir aprendendo coisas novas e não se sentir desafiado o suficiente. Nesses casos, uma conversa aberta com a sua liderança direta pode ser benéfica. Procure entender se existem novas atividades ou projetos que você poderia contribuir para agregar novas experiências à rotina. Entenda, ainda, se existe a possibilidade de uma movimentação lateral ou de agregar atividades de áreas pares ao escopo.
Já as movimentações para outras empresas, geralmente, têm como motivação o desejo de conhecer outras culturas organizacionais, a falta de oportunidades de crescimento na organização atual, o desconforto com o direcionamento ou com a postura da atual liderança. Há, ainda, a preocupação com o momento financeiro desfavorável da empresa ou do setor, a busca por maior reconhecimento, o desejo por atuar em outro modelo de trabalho ou a busca por uma organização que seja mais próxima da própria residência, entre outros fatores.
Se a sua opção for mesmo trocar de empresa, não tome a decisão sem antes fazer uma análise profunda sobre o cenário e a reputação da nova companhia. Como está o setor de atuação no qual ela está inserida? Qual é o posicionamento da companhia no mercado? Quais são as condições financeiras da empresa para a qual deseja se movimentar? Existem processos judiciais e termos de ajuste de conduta que a envolvam? Faça pesquisas em sites como Reclame Aqui, Consumidor.gov e Glassdoor, por exemplo.
Estude a cultura da empresa. Isso pode parecer difícil, mas não é tão complicado quanto parece. Pesquise, também, sobre o perfil da gestão direta e a rotatividade nos cargos da alta liderança. Alto turnover nessas posições pode ser um sinal de alerta. E, nessa análise, tenha clareza de quais aspectos te fazem gostar da empresa atual, para ter certeza de que esses aspectos também estarão, de certa forma, presentes na nova companhia.
No processo seletivo, antes de aceitar a proposta de trabalho, você sempre pode e deve, em posições de liderança como a sua, pedir mais uma conversa com o gestor e o RH da empresa para tirar dúvidas sobre a cultura e o momento da organização. Isso te dará mais segurança na hora de aceitar a oferta de trabalho. Hoje em dia, os candidatos também podem e devem avaliar seus futuros empregadores para ter certeza da decisão.
E saiba que o medo do novo, o receio da mudança, é normal, independente da sua senioridade na carreira. Também é comum que as pessoas se acostumem com a zona de conforto. Mas, muitas vezes, precisamos vencer a insegurança para conseguirmos evoluir e voar ainda mais alto.
Finalizo com uma passagem do Rubem Alves, um escritor que gosto muito e que pode te inspirar a dar esse próximo passo: “Somos assim: sonhamos o voo, mas tememos a altura. Para voar é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio, porque é só no vazio que o voo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas é isso que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.”