É melhor ser especialista ou generalista?
A colunista Isis Borge aconselha leitor que acabou de se formar e está em dúvida sobre qual caminho seguir na carreira
Colunista da VocêRH e do Valor Econômico
“Acabei de ser efetivado de trainee a funcionário pleno no meu primeiro emprego e tenho ouvido muitas pessoas falando que é importante ter uma especialização. Ao mesmo tempo, tenho interesse em muitos assuntos e vejo que diversas empresas procuram profissionais com olhar e formação mais generalista, que sejam capazes de resolver diversos tipos de problemas e contribuir em diferentes projetos. No que eu deveria apostar nesse momento da minha carreira: ser um especialista ou generalista?” Analista de sistemas, 24 anos
Não existe uma escolha certa ou errada na decisão de ser especialista ou generalista. Tudo vai depender do seu perfil pessoal e profissional, das atividades que te aproximam da sensação de realização. Como não nos conhecemos pessoalmente, vou sugerir aqui alguns caminhos para te estimular a ampliar mais a reflexão sobre o tema e, então, tomar a melhor decisão.
Um importante primeiro passo seria conversar com a pessoa responsável pela sua liderança e entender qual costuma ser a trajetória de profissionais que ingressam como trainees na empresa em que você está. Pensando no médio e longo prazo, por quais áreas, potencialmente, você poderia passar? Quais posições poderia ocupar? Nesse bate-papo, deixe claro sua intenção de entender as possibilidades para se preparar da melhor forma. Pode ser interessante conversar com funcionários que foram trainees antes de você na organização (se o programa for algo que venha sendo praticado por alguns anos) e avaliar se a organização costuma preparar profissionais mais generalistas ou especialistas. Cada empresa tem uma estratégia.
Outra questão importante de avaliar, antes de se decidir por ser especialista ou generalista, é a sua fluência em idiomas, principalmente inglês e espanhol. Pela sua pergunta, suponho que tenha preocupação em ter uma carreira sólida. Saber se expressar bem em outro idioma vai facilitar o seu acesso a mais oportunidades, independentemente da área e/ou posição escolhida. Em tecnologia, profissionais de análise de sistemas com fluência em outros idiomas têm podido escolher trabalhar em outros países, existem muitas oportunidades internacionais. É bom ter essa porta aberta para o futuro.
Com essas opções em mente, mapeie quais profissionais ocupam cadeiras iguais ou similares e são destaques no mercado. Qual é o perfil técnico e comportamental dessas pessoas? Quais experiências elas acumulam no currículo? Busque saber o que essas pessoas pensam sobre a profissão que exercem. Informações como essas vão te permitir refletir melhor quais passos serão necessários para atingir seus objetivos e a definir um plano de ação com prazos.
Aqui, creio que seja importante reforçar que o plano de carreira não precisa ser algo estático. Ele serve para te dar um norte sobre passos no curto e médio prazo, mas é saudável que você revise-o, pelo menos, uma vez por ano, conforme sua visão do mundo corporativo for se formando. Afinal, o mercado de trabalho e os nossos planos e objetivos estão em constante mudança. Além disso, ao longo da trajetória, podemos nos encontrar com pessoas que ampliem ainda mais o nosso olhar.
Caso identifique que o melhor é fazer uma especialização, você tem dois caminhos. Se estiver atuando com análise de sistemas na área de tecnologia, uma sugestão é fazer cursos de TI com o objetivo de se tornar um profissional com conhecimentos cada vez mais amplos na área – podem ser, inclusive, cursos de curta duração.
Caso o programa de trainee tenha te alocado em outra área ou você não se veja em TI no longo prazo, sugiro que comece por um MBA em negócios, administração de empresas ou finanças. No momento dessa escolha, considere algo que seja complementar ao aprendizado no seu curso de graduação ou algum tema que você estudou na faculdade, se interessou e gostaria de conhecer com mais profundidade. Se a dúvida persistir, escolha finanças, que é um conhecimento que sempre agrega valor à carreira.
Cursos de curta duração sobre temas do momento que vieram para ficar também enriquecem o currículo e nos ajudam a tomar melhores decisões sobre caminhos a seguir na carreira. Por exemplo, você pode iniciar ou aprofundar os conhecimentos em ESG ou em inteligência artificial, pautas que têm feito parte do dia a dia das principais organizações do mundo. Lembrando que os benefícios dos cursos estão no aprendizado adquirido e, também, nas pessoas que encontramos durante as aulas.
Paralelamente a tudo isso, mantenha constante atenção à sua postura corporativa, porque as habilidades comportamentais seguem sendo muito importantes no momento de contratar, promover ou demitir um profissional. Como está, por exemplo, a sua capacidade de se comunicar com profissionais de diferentes níveis hierárquicos? Sabe trabalhar em equipe? Possui autoconhecimento suficiente? Tem inteligência emocional para lidar com pessoas e situações desafiadoras? Quais outras habilidades gostaria de desenvolver?
Para ter mais chance de alcançar realização profissional, é fundamental tomar as rédeas da própria carreira, sem se deixar guiar apenas pelo acaso. Te desejo sucesso!