6 destinos para quem quer trabalhar fora do Brasil

Cada região tem procedimentos diferentes para liberar a permanência de profissionais. Veja os principais

Isis Borge Sangiovani
Managing Partner no Talenses Group & Executive Director na Talenses
Colunista da VocêRH e do Valor Econômico

Tenho sido muito questionada por profissionais com interesse em trabalhar fora do país. Por essa razão, decidi trazer aqui um pouco do que tenho visto de alternativas. Acredito que a informação mais importante é: o caminho vai depender muito do país escolhido para a busca de oportunidades, principalmente porque cada nação tem condições particulares com relação ao mercado de trabalho.

Estados Unidos 

Nos Estados Unidos, a migração é possível por diversos caminhos, mas por nenhum deles a jornada é exatamente simples. O visto mais fácil a ser adquirido é o L1, concedido a profissionais que atuam no Brasil em uma empresa com sede em solo americano e conseguem transferência para a matriz. É um visto emitido relativamente rápido. A transferência, porém, só costuma ser aprovada se os advogados trabalhistas da filial provarem que a contribuição da pessoa será importante para a organização.

Existe também um visto chamado H1B. Almejada por muitos estrangeiros, essa autorização é concedida para profissionais com diploma superior que já tenham uma oferta de trabalho de uma empresa americana e que esteja disposta a patrocinar a ida dessa pessoa para o país. Em geral, todo ano, no primeiro dia do mês de abril, as organizações submetem suas reivindicações desse tipo de visto à Embaixada e Consulados com relação a profissionais com graduação, mestrado ou doutorado.

Usualmente, a companhia que opta por patrocinar essa ação contrata os serviços de advogados trabalhistas, que ficam responsáveis pela solicitação do visto. Podem pagar um processamento premium para saber do resultado com antecedência ou o processamento simples, quando o resultado é divulgado entre seis e oito meses após o sorteio. Uma vez sorteado e aprovado, a validade do visto é de três anos, podendo ser renovado, inicialmente, por mais três anos e, na sequência, por mais 12 meses.

Tanto o visto L1 quanto o H1B permitem que o profissional permaneça nos Estados Unidos na companhia do cônjuge e dos filhos enquanto o contrato de trabalho estiver vigente. Porém, a autorização não permite que esses familiares trabalhem no período em que estiverem nos Estados Unidos.

Existe também um tipo de visto para quem for estudar nos Estados Unidos. Usualmente, após o término do curso, a pessoa tem o direito de permanecer em solo americano por mais um ano para trabalhar. Terminado esse período, a empresa contratante precisa entrar com o pedido do H1B caso queira estender o contrato de trabalho com o colaborador estrangeiro, que entra no sorteio para tentar ser contemplado com o novo visto.

Existe também um visto de investidor EB-5. Nesse caso, a pessoa escolherá um projeto para investir um valor em torno de 1 milhão de dólares em uma empresa que precisa gerar pelo menos dez postos de trabalho para norte-americanos, podendo ser um investimento em uma empresa escolhida ou em um setor da economia que constar na lista do centro regional de imigração. Esse tipo de visto permite que cônjuge e filhos do investidor trabalhem no país. Porém, a ação exige um aporte financeiro considerável em contrapartida. É importante dizer que não existe garantia de retorno desse investimento, mas é um caminho certo para o investidor e sua família posteriormente conseguirem o green card.

Existe também o visto E2, para empreendedores que desejam montar negócios nos Estados Unidos e com isso gerar empregos para cidadãos americanos. Existe uma análise bem detalhada por trás desse tipo de visto, mas pode ser um caminho interessante a ser estudado.

Há ainda o visto O1A, destinado a profissionais com habilidades excepcionais. Ele é concedido a um seleto e diferenciado grupo de pessoas aos olhos do consulado americano. Outro que tem ganhado bastante relevância é o EB2 NIW, que é uma petição de green card para profissionais com habilidades excepcionais que permite à pessoa imigrar aos Estados Unidos mesmo sem ter vínculo com nenhuma organização e ainda autoriza que filhos e cônjuges trabalhem em solo americano.

Existem outros tipos de vistos, como aquele conquistado por meio do casamento com um americano ou uma americana. Mas a minha intenção é apresentar aqui aqueles que não te obrigam a ter vínculo com alguém que tenha cidadania americana. Por isso, aos brasileiros que têm interesse em morar nos Estados Unidos, minha recomendação é: converse com um advogado de imigração especializado para entender os caminhos, as oportunidades e os pontos de atenção.

Europa 

Muitas pessoas querem trabalhar na Europa. A boa notícia é que se trata de um destino possível e menos burocrático, se comparado aos Estados Unidos, pois a União Europeia emite vistos de trabalho com mais rapidez. Além disso, as empresas têm buscado profissionais no Brasil para trabalharem em solo europeu. Neste caso, minha recomendação é que você busque por vagas em anúncios no site e nas redes das próprias empresas ou em plataformas de anúncios locais. Em geral, nessas oportunidades, ter um bom nível de proficiência em algum idioma, preferencialmente o inglês, é um importante diferencial, além de uma carreira previamente bem estruturada.

Após a aprovação do candidato no processo seletivo, a empresa contratante providencia a documentação do visto. A carta oferta fica condicionada à aprovação do documento. Eu tenho presenciado bastante rapidez nesse processo. Os casos que acompanhei levaram entre um e três meses. Quando se trata de alguém com cidadania do país onde se deseja trabalhar, basta aplicar para as vagas sem a necessidade de uma aprovação de visto de trabalho — é um processo ainda mais rápido e menos burocrático.

Canadá

Caso o seu destino de interesse seja o Canadá, é bom saber que tem sido mais fácil encontrar vagas em regiões mais remotas do país, em vez dos concorridos destinos Vancouver, Toronto e Montreal. Aqui, destaco dois caminhos. Um é optar por ingressar em cursos de extensão universitária, enquanto pleiteia uma permissão de trabalho temporária, que pode virar permanente posteriormente. Outra opção é, estando no Brasil, se informar sobre as profissões que são procuradas pelo governo do Canadá. Se o seu perfil se adequar, o ideal é contratar o serviço de um advogado de imigração especializado para montar o processo com a documentação. Nesse segundo caso, existem alguns critérios que são levados em consideração pelo país, como a faixa etária da família interessada em imigrar, a nota no teste de inglês IELTS, o histórico acadêmico e profissional, além da escolha da região de interesse no país.

América Latina e Caribe

Para trabalhar em países da América Latina e no Caribe a burocracia existe, mas costuma ser bem menor. Isso tem feito com que muitos brasileiros estejam indo trabalhar no Chile, na Colômbia, no Uruguai, no Paraguai e na Argentina, por exemplo. Basicamente, o processo consiste em ser aprovado em um processo seletivo de uma empresa local. Na sequência, a companhia em questão pede a aprovação do visto de trabalho, que tem sido emitido com rapidez. É uma possibilidade que vale a pena ser considerada.

Austrália

Para a Austrália, existem dezenas de tipos de vistos e a categoria de cada autorização depende, por exemplo, se o trabalho será realizado em uma área em que existe escassez de mão de obra australiana, além do perfil da família que pretende acompanhar o profissional. Para esse destino, também existe a possibilidade de pedir a transferência da unidade brasileira para a matriz australiana. Quando a solicitação do visto fica por conta da companhia as chances de aprovação aumentam de maneira significativa. Estando na Austrália, caso o profissional estrangeiro seja demitido, o país concede um tempo de permanência para que ele consiga se recolocar.

Na Austrália também é possível o caminho de ir para estudar e conquistar a permissão de trabalho. Essa autorização possui, ainda, chance de ter uma vigência longa e bastante interessante. E, claro, você sempre pode contratar o serviço de um advogado de imigração especializado para verificar as chances e possibilidades de solicitar um visto de trabalho temporário (Temporary Skill Shortage Visa – Subclass 482) para um período entre dois e quatro anos patrocinado pela empresa empregadora. Existe, também, um visto mais amplo que permite ao estrangeiro trabalhar em qualquer local da Austrália (Skilled Independent Visa – Subclass 189).

Ásia

Também tenho visto muitos estrangeiros serem contratados por empresas da Ásia, principalmente na China. Em geral, esses profissionais têm toda a documentação providenciada pelo empregador. Em Singapura, há uma grande quantidade de brasileiros atuando em posições interessantes nas empresas locais, como gestores de centros de engenharia, em pesquisa e desenvolvimento, gestão de projetos, compras e gestores de supply chain.

A decisão de morar ou trabalhar fora do Brasil, seja de maneira temporária, seja permanente, é algo que tem passado pela cabeça de muitas pessoas. Os bônus dessa decisão estão relacionados à oportunidade de vivenciar uma nova cultura, conhecer pessoas e lugares novos, aprimorar idiomas e ter uma visão mais ampliada do mundo. Por outro lado, quando o passo não é bem planejado e estudado, a pessoa pode sofrer consequências do alto custo de vida, por exemplo, com redução de chances de acumular bens ou capital no longo prazo, principalmente quando o profissional se desloca para outro país com cônjuge e filhos. É preciso considerar, ainda, a saudades de familiares, amigos e da própria cultura do Brasil. 

Caso a vontade de trabalhar fora do Brasil realmente exista e você atue em uma empresa com unidade ou matriz fora do país, comece conversando com seu atual líder. Esse tipo de transferência sempre é o caminho mais fácil. Se essa não for uma opção, considere buscar ajuda especializada e faça contato com brasileiros que estão no destino escolhido, para pesquisar mais informações sobre as oportunidades e as burocracias. Apenas tome cuidado para ter como referência profissionais e empresas idôneas, pois infelizmente ainda há notícias de tráfico de pessoas que vão em busca de promessas de uma vida melhor no exterior.

Trabalhar fora do país não é sinônimo de uma vida fácil. Mas, com planejamento, organização e foco, é recompensador. Afinal, experiências novas, quando bem ressignificadas, tornam-se ricas para o currículo pessoal e profissional. No pior dos cenários, você sempre pode recalcular a rota. Espero ter ajudado.

ISIS borge sangiovani
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