Um pouco do que ouvi no 16º Fórum SAE Brasil de Manufatura

Isis Borges Sangiovani
Diretora Executiva na Talenses e sócia do Talenses Group
Colunista da VocêRH e do Valor Econômico
 

Recentemente, estive em Campinas para acompanhar o 16º Simpósio SAE BRASIL de Manufatura Seção São Paulo Interior. O encontro, realizado no Centro de Eventos da Bosch, reuniu especialistas da indústria e promoveu debates e compartilhamentos de informações em torno do tema: “Made in Brasil: inovação e tecnologia cocriando o futuro da manufatura”.

Foi um dia de networking e visita às instalações da Bosch, além de palestras muito interessantes. Momentos para ouvir ótimas ideias de Erwin Franieck , diretor presidente da SAE4Mobility; José Menezes, gerente de relações com o mercado na EMBRAPII – Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial; Luiz Fernando Carvalho de Souza, coordenador de negócios – PIT-SJC; Paulo Renato Pereira Villarim Meira, líder do Programa Prioritário BNDES, Renata Guinther da FINEP, Thiago Bastos diretor de finanças e administrativo na Bosch; Flavio Henrique Sakai, diretor sênior automotivo na HARMAN DO BRASIL; Cesar Batalha, country manager na AutoForm do Brasil; Bruno Eduardo Medina, engenheiro eletricista sênior na Bosch Brasil; Rangel Mattia, diretor das fábricas de equipamentos de construção e florestal na John Deere; Renato Murakami, gerente industrial na KION Group; Fernando Grangeiro, vice-presidente de manufatura na Bosch; e João Galdino, CEO na Genesis Inteligência Artificial.

“Made in Brasil”: por que esse foi o tema do evento?

No painel de encerramento intitulado “Made in Brasil”, os três panelistas Fernando Grangeiro, Rangel Mattia e Renato Murakami, explicaram que o termo era em referência aos profissionais brasileiros, amplamente conhecidos por serem capacitados, abertos ao aprendizado e altamente apaixonados pelo que fazem. O Fernando e o Rangel contaram que trabalharam alguns anos no exterior nos EUA, Europa e Ásia e constataram que o perfil dos brasileiros é, de fato, diferenciado. Foi uma forma de ressaltar que os brasileiros têm empregabilidade no mundo inteiro e que, portanto, as organizações devem investir para manter esses profissionais por aqui.

Alguns insights do muito que ouvi durante o evento

Todas as palestras, sem nenhuma exceção, foram extremamente ricas em conteúdo e reflexão. Eu não teria espaço suficiente para esmiuçar aqui tudo o que ouvi. Mas, na tentativa de compartilhar boas ideias, aqui vai um pouco do muito que eu ouvi:

  • Hoje, o Brasil está preparado para exportar produtos de igual para igual para qualquer país de primeiro mundo. Para empresas que precisam importar em dólar para produzir, uma estratégia pode ser buscar exportar também em dólar, pelo menos, 50% da produção.
  • Antigamente, a manufatura era vista como uma área que produzia o produto. Hoje, os profissionais do setor têm sido vistos como pessoas de negócios, reconhecidos pelo potencial de ter uma ampla visão sobre a organização e os custos de produção.
  • Globalmente, existe uma demanda por excelência em manufatura, com alta valorização por profissionais qualificados. Quanto à mão de obra brasileira, estamos com custo igual ou menor na comparação com o México e muito próximos da China. Na comparação com os Estados Unidos, a mão de obra brasileira chega a ser até quatro vezes mais barata.
  • Muitas empresas de autopeças estão levando operações da China para o México, em função dos incentivos fiscais do mercado norte-americano. Se esse movimento persistir, daqui a três ou quatro anos, a inflação do México vai subir, o que tende a deixar o mercado local menos competitivo, abrindo oportunidades para Índia e Brasil. Ou seja, a perspectiva é que venha um momento muito propício para o nosso país ser líder de produção nas Américas. É preciso preparar a nossa mão de obra e as nossas fábricas para o momento.
  • O Brasil é um país muito propício para a manufatura. Isso porque nos destacamos pela flexibilidade de produtos, processos, pessoas e volume de produção. O que se faz em cinco plantas nos Estados Unidos pode ser produzido em uma única unidade do Brasil. É, também, uma vantagem o fato de não termos entraves para manter a operação de uma empresa 24 horas por dia durante toda a semana, com equipes divididas em 3 turnos. Algo que não é possível em outros países em função de entraves de legislação e sindicais.
  • As empresas precisam investir em comunicação, na cultura organizacional e na capacitação da equipe em habilidades digitais. Nos foi alertado que, principalmente as novas gerações, precisam de um propósito na carreira e de culturas corporativas que promovam um ambiente colaborativo.
  • Cada líder de manufatura deve assumir responsabilidades pelas transformações culturais da companhia. É preciso esforço para tirar a limitação da mente das pessoas, liderando de uma forma que os colaboradores se sintam estimulados a fazerem mais e melhor.
  • É comum encontrar, ao redor do mundo, profissionais brasileiros trabalhando de forma extremamente especializada. Foi destacado que os engenheiros brasileiros costumam apresentar uma combinação boa de habilidades comportamentais e conhecimentos técnicos, o que deixa essa mão de obra extremamente disputada.
  • Aos gestores, em geral, foi transmitido um recado importante: não basta apenas saber liderar o próximo, também é preciso ser capaz de gerenciar a si mesmo.
  • Existem muitas iniciativas interessantes de descarbonização que estão acontecendo em processos produtivos, cadeia de insumos, biocombustíveis e novas soluções de mobilidade. No portal do cliente do BNDES, inclusive, estão disponíveis incentivos fiscais com menores taxas para organizações que tenham projetos de descarbonização.
  • No quesito incentivo à tecnologia e inovação, vale buscar mais informações sobre o funcionamento da Lei do Bem e de programas da Finep e da Embrape.
  • Tivemos acesso a detalhes sobre a evolução e o uso do conceito gêmeos digitais, que consiste em replicar digitalmente algo que se pretende fabricar no mundo físico, tanto para os setores automotivo e aeroespacial quanto para as linhas branca, amarela e marrom. Tudo para garantir produções mais inteligentes, com mais qualidade, menos falhas e otimização de tempo e custo de produção.
  • Recebemos um lembrete de que IA, por si só, sem dados, não resolve desafios, dores e dilemas. As empresas, então, precisam criar formas de ter informações precisas, de qualidade e no tempo certo para as necessidades do negócio.
  • Foram apresentados interessantes casos de IA ligando e desligando robôs, dando ordens, abrindo chamados de manutenção, controlando, notificando e ajudando a organizar os processos de manufatura. Inclusive, presenciamos o funcionamento do sistema DIOS (Digital Infrastructure Operation System), que permite controlar uma fábrica inteira, desde as ações mais simples até as mais complexas, de qualquer parte do mundo a partir de um dispositivo conectado à internet, agregando valor, competitividade, eficiência e redução de custos para o negócio.
  • Fomos relembrados sobre o valor do propósito para manter ou elevar o engajamento do time. Por exemplo, um operador não pode se limitar a pensar que ele apenas faz um cordão de solda. É importante que ele seja estimulado a reconhecer a importância do trabalho dele na construção de uma máquina e de que forma a operação deste equipamento que ele ajudou a construir vai beneficiar algo ou alguém. Na medida do possível, é fundamental, ainda, comunicar à equipe as estratégias do negócio para que todos saibam para onde a empresa está caminhando. 

Entre todos esses pontos que eu trouxe, qual deles chamou mais a sua atenção e/ou estimulou alguma reflexão em você? 

Isis Borges Sangiovani
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