E você, como está se comunicando?
João Marcio Souza
A importância de uma comunicação eficaz não é novidade. Desde a Grécia Antiga, filósofos como Aristóteles, Platão e Sócrates compreendiam o valor de uma mensagem bem transmitida. Não buscavam apenas expor suas ideias, mas comunicar-se de forma cuidadosa, ética e persuasiva, sempre com o objetivo de provocar reflexão e inspirar aqueles ao redor. Eles sabiam que a escolha das palavras e o respeito ao outro eram ferramentas poderosas, capazes de transformar sociedades. Como disse Aristóteles, “o homem é, por natureza, um animal social” — e, nessa convivência, a comunicação é o elo que permite o entendimento mútuo.
Essa reflexão sobre comunicação se intensificou recentemente em minha mente após um encontro com o renomado jornalista e escritor americano Charles Duhigg, autor de O Poder do Hábito e do recém-lançado Supercomunicadores. Em um evento organizado pelo Talenses Group e a Companhia das Letras, em colaboração com a FGV – EAESP, Duhigg nos presenteou com uma lição sobre o poder de comunicar-se bem e como “supercomunicadores” conseguem estabelecer conexões genuínas com qualquer pessoa. Esses mestres da comunicação não apenas escolhem cuidadosamente suas palavras, mas também modulam suas vozes, utilizam gestos apropriados e, acima de tudo, são exímios na escuta ativa e empática, compreendendo a experiência e os sentimentos de quem está do outro lado.
Grandes figuras da história, como Abraham Lincoln e Martin Luther King Jr., exemplificam essa habilidade de conectar-se profundamente com o público. Lincoln, conhecido por sua fala compassiva e clareza de propósito, usava sua oratória para unir uma nação dividida. Sua Proclamação de Emancipação não foi apenas um decreto; foi uma mensagem de esperança, justiça e unidade. Já Martin Luther King Jr., com seu discurso “I Have a Dream”, deixou uma marca indelével na luta pelos direitos civis ao comunicar, com intensidade emocional e clareza, a urgência de igualdade e respeito. Ambos sabiam que as palavras certas, quando aliadas à integridade e ao compromisso com o bem, podiam ressoar por gerações.
A habilidade de comunicar-se bem não se limita ao universo corporativo ou ao palco público. É uma qualidade essencial em todos os papéis da vida. Mahatma Gandhi, por exemplo, usava a comunicação pacífica para inspirar milhões em sua luta pela independência da Índia, mostrando que a palavra tem o poder de mobilizar sem violência. Em nossa própria vida cotidiana, a comunicação é o alicerce dos relacionamentos, seja com familiares, amigos ou colegas de trabalho. Afinal, comunicar-se bem não é apenas uma técnica; é uma prática que revela nossa intenção de entender o outro e de sermos compreendidos.
Em um ambiente corporativo, onde as fronteiras entre departamentos são cada vez mais fluidas e gerações diversas trabalham juntas, comunicar-se eficazmente é um diferencial para o sucesso de projetos, o fortalecimento de equipes e o crescimento profissional. No entanto, essa habilidade é igualmente valiosa fora das paredes do escritório, quando cultivamos relacionamentos familiares ou amizades sólidas. Como você interage com as pessoas ao seu redor? Você consegue transmitir suas ideias sem criar ruído ou tensão? Suas palavras acolhem ou afastam? Essas perguntas revelam muito sobre a qualidade de nossa comunicação e sobre a profundidade das relações que construímos.
Em todas as esferas, uma comunicação cuidadosa demanda autoconhecimento e um compromisso com a integridade. Winston Churchill, com sua liderança durante a Segunda Guerra Mundial, também mostrou o poder transformador das palavras. Seus discursos, como “We shall fight on the beaches”, inspiraram coragem e resiliência em tempos de incerteza. Mas comunicar-se bem não é apenas falar; é ouvir ativamente, adaptar o discurso conforme necessário e demonstrar respeito pela visão e sentimento do outro. Quando falamos, será que causamos o impacto desejado? As pessoas realmente compreendem nossa mensagem, ou nossa comunicação se perde no ruído? E quando escutamos, será que realmente absorvemos o que o outro tem a dizer?
Esses questionamentos são valiosos porque mostram que comunicar-se bem é, essencialmente, uma habilidade de construção. Cada interação, por menor que seja, contribui para a percepção que deixamos. Como nos lembram grandes nomes da história, como Nelson Mandela, que usava o diálogo para promover reconciliação em uma nação dividida, as palavras têm o poder de curar, de aproximar e de fortalecer. O que Mandela e muitos outros líderes demonstraram é que o valor de uma boa comunicação está em sua capacidade de construir pontes e eliminar barreiras, um impacto que todos nós podemos alcançar, em qualquer esfera da vida.
Estamos todos em um palco, mesmo que esse palco seja apenas o convívio diário. E isso nos coloca diante de escolhas contínuas: comunicamos para conectar ou apenas para compartilhar ideias? Em nossas relações pessoais e profissionais, estamos realmente criando um espaço seguro para que as pessoas se expressem? Ter um discurso claro e empático é algo que fortalece as relações e cria um legado de confiança. E como nos lembrou Maya Angelou, poeta e ativista, “as pessoas esquecerão o que você disse, esquecerão o que você fez, mas nunca esquecerão como você as fez sentir”.
Se desejamos prever o futuro, precisamos estudar o passado. A história mostra que, quando usada com responsabilidade e respeito, a comunicação é capaz de moldar o destino de indivíduos, empresas e nações. Os grandes comunicadores nos ensinam que, por meio de palavras ponderadas e de uma escuta genuína, é possível influenciar o futuro de maneira ética e significativa. A boa comunicação é, portanto, um elo entre o que fomos e o que podemos nos tornar, seja em nossas carreiras ou em nossas vidas pessoais.
A boa comunicação, portanto, vai muito além de uma habilidade técnica. Ela é o reflexo do respeito e da abertura ao outro, seja em casa, com amigos ou no trabalho. Como Duhigg destacou, e tantos grandes líderes provaram, comunicar-se bem é um compromisso pessoal e intransferível com a criação de relações autênticas. Ao escolhermos cada palavra, ao escutarmos ativamente e ao nos conectarmos de forma genuína, estamos construindo algo maior que nós mesmos.
Afinal, comunicar-se bem não é apenas se expressar, mas deixar uma marca positiva e duradoura, que transforma a convivência e, em última análise, define o impacto que deixaremos no mundo.